segunda-feira, 14 de julho de 2014

Foi numa manhã fria de Dezembro. 
Saí de casa para ir buscar sardinha e uma saca de farinha, e 1 kg de carne de porco, aí vou eu direita á vila.
Desta vez a minha ansiedade era muito maior, com a minha primeira nota de vinte “paus”, verdinha, quase nova, como o santo António de ar beato.

Era de facto a primeira vez que tinha podido ficar com 2 dia do meu ordenado, sentia-me feliz.
Depois de fazer as compras e com a nota bem dobradinha numa telega de retalhos, encontrei a minha prima a Leontina que logo me desafiou para lhe pagar uma volta no carrocel, eu várias vezes para a nota com ar triste com vontade de a guardar debaixo do colchão.
Mas ela tanto insistiu que eu resolvi destrocar a nota e comprar 2 fixas para darmos umas voltas no carrocel:
Mas que sensação indiscritível, apetecia-me andar mais, mas não queria gastar o dinheiro todo
Mas o pior ainda estava para vir, comprámos pastéis de nata, que bom, que delicia nunca tinha provado
Comprei 6 para levar para os meus manos, ainda sobraram 5 escudos.

Eu queria guardá-los mas ela me jurou por tudo que me pagava na semana seguinte para eu lhos emprestar, eu quase forçada emprestei-lhe os 5 mil réis, que ela foi logo derreter na tasca num maço de tabaco Provisórios que fumou desalmadamente e me obrigou também a fumar, engasguei-me, e chorei.
Era meio-dia e estava despachada a manha, e com ela já tinha ido o maço de tabaco s meus preciosos vinte escudos. Ao chegar a casa não comi nada ao almoço: estava triste e enjoada com o cigarro e apavorada
que a minha mãe me perguntasse pelo dinheiro.
Jamais me esquecerei este dia, ainda hoje me lembro dos 5 escudos que até hoje nunca mais os vi, porque entretanto ela emigrou para França. Quando cá vem ainda relembramos juntas e rimos do que se passou no dia 6 de Janeiro de 1970, em dia de reis, jamais esquecerei, uma história verdadeira que podia ter um desfeche mais feliz.

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